Orago: Santo António
A povoação situa-se a pequena distância da vila, na confluência das estradas que da vila seguem para Peniche e Lisboa.
Localizada num vale fértil e rodeada, em tempos idos, por extensas matas onde predominavam o pinheiro, o sobreiro, o medronheiro e o carvalho e onde as espécies cinegéticas eram abundantes, desde muito cedo a zona foi habitada.
A tradição oral atribui o topónimo a uma personagem local, de nome Vicência, proprietária de uma taberna e de um estanco (venda) de tabacos, nos inícios do século XIX. Conhecida devido ao peso, pela designação de Vicência a Gorda, a sua taberna, ponto de paragem dos visitantes, teria começado por ser identificada como a taberna da Gorda ou A-da-Gorda, passando o topónimo a identificar não só a taberna como a própria localidade.
Caso se aceite tal justificação há, no entanto, que recuar no tempo, alguns séculos. Efetivamente a localidade da Degorda, Dagorda, da Gorda ou A-da-Gorda, aparece já referenciada, pelo menos desde o século XIII, em documentos oficiais (tombos de propriedade, atas de vereação, inventários de partilhas).
Um manuscrito, cuja data e origem está ainda por identificar, vai mais longe e situa os primeiros povoadores da aldeia, no reinado de D. Dinis que doara aí uma casa ao seu Monteiro-Mor, encarregue da gestão das matas da então extensa montaria de Óbidos
Os dados de que dispomos, fruto da investigação da historiadora Manuela Santos Silva permitem-nos, no entanto, apontar para o mosteiro de Alcobaça como responsável pela criação do primeiro núcleo populacional, através da criação de uma granja (propriedade agrícola) a partir da qual se dominava a produção vinícola e cerealífera das zonas mais baixas e a pastorícia , nos montes da proximidade. Toda esta atividade, a par do produto das vindimas e o seu armazenamento e possível venda para Óbidos e Atouguia ( porto de mar por onde muito do então afamado vinho da região era escoado para Lisboa), terá gerado emprego e, como tal, atraído povoadores
Pelos finais do século XVI , a aldeia contaria já com vinte e cinco vizinhos/famílias, residindo quer na localidade quer em casais e quintas em seu redor (Casal da Eira , Quinta da Penha, Quinta do Jardim Quinta/ou Casal da Granja) e foi crescendo paulatinamente atingindo as quarenta e duas famílias em 1657 e as cinquenta e quatro em 1765, segundo os livros de registo de décimas desses anos. Continuam a predominar as profissões ligadas à agricultura (lavradores e seareiro) mas é possível encontrar outras profissões: Militares (o Capitão Paulo da Gama e o seu filho Manuel Ferreira, irmão e sobrinho do beneficiado Faustino das Neves), três carpinteiros, uma padeira, um moleiro, um sapateiro, um cardador, um alfaiate, dois cirurgiões (em 1755) e um mestre das Valas (funcionário da Casa das Rainhas, responsável pela supervisão das obras de conservação da Várzea da Rainha).
No principio do século vinte a descoberta, em 1930 de Jazidas de Diatominte, levou à abertura de uma Mina e de uma oficina de tratamento do referido minério, em 1938, junto à Quinta do Jardim, pela Sociedade Anglo-Portuguesa de Diatomite, o que terá contribuído para um novo crescimento populacional e para a respetiva expansão urbanística. É também por esta altura, em 1939, que Paulino Ferreira Matias obtém licença para abrir, junto à estrada para Peniche, uma fábrica de refrigerantes
Até à expansão populacional do última século a aldeia cresceu em torno da sua Praça, uma das maiores e mais bem concebidas do concelho e para a qual convergem as ruas mais antigas, de traçado quase medieval e ao longo das quais encontramos casas representativas da arquitetura tradicional da região, tanto em termos de estrutura como em termos de materiais utilizados.
No Largo de Santo António, em honra do padroeiro, concentram-se, de modo harmonioso, alguns equipamentos urbanos: o jogo da bola, o coreto e a Capela de São Brás ou Igreja de Santo António. Ainda na Praça, o poço público, já documentado em séculos anteriores era, até há pouco tempo, elemento essencial, permitindo o abastecimento de água à localidade.
Bem próximo do Largo de Santo António terá ainda estado localizada a já referida taberna e hospedaria da Vicência a gorda, local de paragem dos correios vindos de Peniche e de Caldas, bem como dos viajantes.
Esta aldeia conta com um forte movimento associativo ligado à União Filarmónica de A-da-Gorda que tem levado o nome desta aldeia por todo o país.